Escola de Taguatinga incentiva hábito da leitura

24/03/2009 08:19

No subsolo da biblioteca da Escola Classe 18, em Taguatinga, mora um casal de ratos que se tornou a sensação para mais de 800 alunos de 6 a 11 anos. Com o nome artístico Racumim e Racutia, os roedores deixaram o marasmo do esgoto e vieram à superfície para contar histórias e trocar bilhetes com a criançada. Ao interagir, mexem com o imaginário e aguçam a curiosidade da meninada pelos livros.

Racumim e Racutia são personagens do Projeto Reinventando a Biblioteca. Criado há dez anos por um grupo de professoras da Escola Classe 18, ele busca mudar o aprendizado. De modo espontâneo, sem cobranças, os pequenos passam a ler por prazer e não por obrigação. "Livro tem que ser igual a uma bola para brincar", diz a professora Célia Madureira Silva, uma das idealizadoras da iniciativa. "Não há criança que não goste de ler. Há criança que não descobriu que gosta de ler", emendou a pedagoga Raquel Gonçalves Ferreira.

A iniciativa tem dado certo.A comunidade tem colaborado para o sucesso do projeto de incentivo à leitura. No começo havia apenas quatro prateleiras incompletas na biblioteca. Hoje, há dez prateleiras, todas cheias de livros de literatura. As crianças levam o livro que quiser para casa e só precisam devolvê-lo depois de terminar a leitura. Não são cobradas resenhas ou relatórios sobre a história, justamente para não fazer do hábito algo obrigatório.

Uma vez por semana, sempre às quintas-feiras, os alunos da Escola Classe 18 participam da Biblioteca Livre. Esse dia serve de termômetro para avaliar os resultados do projeto. Ele é dedicado para quem quer doar livros ou para aquele aluno que terminou de ler e quer trocar por outro. "Mais de 80% dos nossos alunos vêm a biblioteca espontaneamente", garante a professora Raquel Ferreira.

As ações voltadas para despertar o gosto pela leitura não param por aí. Com os bilhetes enviados pelos alunos para Racumim e Racutia, as professoras Raquel e Célia Madureira elaboram ao final de cada ano um livro contando as aventuras desses personagens. O primeiro deles foi lançado em 2005 como o nome Deu rato na biblioteca. Em 2007, foi a vez de O rato dormecido.

Neste ano, a escola lançará o livro Os amores de Racutia. Tudo com ajuda da comunidade e apoiadores. "As crianças vivem a história dos ratos e querem saber qual o desfecho dela", explica Raquel. Duas vezes ao ano, alunos da 4ª série participam ainda do projeto chamado Do Livro ao Palco, onde apresentam uma peça teatral a partir de uma história de um livro da biblioteca, escolhido por eles. Ao longo dos anos todas, as turmas da escola escrevem redações em salas de aula. Os melhores textos de cada um são separados e a escola reúne todos eles para confecção de outro livro. Nos últimos dez anos, mais de 300 livros foram escritos pelos alunos.

Durante o ano letivo, as crianças da Escola Classe 18 também participam de um concurso de literatura. O vencedor recebe um prêmio em dinheiro no valor de R$ 100. O segundo lugar ganha R$ 70 e o terceiro R$ 50. A intenção do colégio é elevar esse valor, uma vez que o número de participantes aumenta todos os anos.

Os professores do colégio também usam e abusam das atividades lúdicas. Os problemas estruturais da escola, como buracos no chão e telhados, ganham novos aspectos. O esgoto, por exemplo, transforma-se a noite em um lindo tobogã colorido, por onde os ratos da biblioteca descem e começam a organizar todo o acervo. Os buracos no teto da sala de aula foram feitos para que Racumim e Racutia observem durante o dia o comportamento de cada alunos. Bonito, não? A Escola Classe 18 é um exemplo que pode seguido em outras partes do Distrito Federal e em outras regiões do país.

 

Mara Puljiz da redação do Jornal de Brasília